Sunday, November 04, 2007

Silêncio...


Silêncio… O silêncio choca-me, estorva-me, sufoca-me. Que é feito da panóplia de vozes gritando, chorando, chamando por pais, filhos, irmãos e inimigos? Onde está o clamor de armas, de rocha a fender-se? Não quero pensar no que ouvi, aterroriza-me o que virei a ouvir, aflijo-me por nada agora ouvir.
É olhando em volta que concluo: será possível lutarmos tanto por algo tão efémero? Meses, anos, séculos de labor e suor em campos, em vidas feitas de trabalho, família e satisfação… tudo se esfuma numa miríade de mal entendidos e de boatos.
No que agora vejo como um imundo monte de entulho, foi outrora o meu querido lar. Será possível só ter decorrido uma semana desde o início desta guerra? Num dia de trabalhos e de tédio escuto um anúncio da guerra… da “nossa guerra” embora ainda esteja para descobrir o que isso significa. Seguiu-se assim uma confusão de sons e de ruídos, mas não o da enxada na terra, o de vozes gritando produtos e preços, nem o de bêbados rindo desalmadamente sem motivo algum, ou de alguma criança rindo por todos os motivos deste mundo: era o som de camiões chegando com tropas, o choro de mães berrando pelos seus filhos condenados a matar ou a morrer, o soluço de jovens a quem a infância está preste a ser brutalmente tirada.
Num par de dias lojas foram devassadas, transformadas em quartéis e outros baluartes de guerra; igrejas profanadas deixaram de abrigar ou confortar crentes perdidos para tornarem-se em macabros arrumos das sobras da guerra, sejam eles mortos ou nem por isso; casas deixaram de parte a intimidade do lar para serem meros refúgios medíocres, becos onde inocentes se escondem pelo bem da sobrevivência, onde só o sentimento de claustrofobia e medo impera.
“Mas há razões para alegrarmo-nos!”, dizem os soldados. “A guerra acabou! Ganhámos! Podemos regressar às nossas vidas, reconstruir o que foi destruído, reencontrar velhos amigos perdidos, reunir famílias desfeitas! Ganhámos!”
Murmúrios aumentam de volume, espalham-se pela plateia mortificada, ferida, estupefacta. Podemos reconstruir as nossas casas, mas sobre escombros de sonhos passados desfeitos. Podemos reencontrar velhos amigos perdidos, mas estes encaram-nos com olhos lânguidos, mortos, leitosos, mesmo os sobreviventes. Mas ainda podemos reunir as nossas famílias!!! Ainda podemos ver os nossos entes queridos! Ainda podemos sussurrar-lhes um breve adeus frente a frente quando há uma semana atrás eles nos teriam, respondido com um “Até breve.”. Ainda podemos oferecer uma última carícia nas suas caras pálidas e frias aos nossos filhos e esperar que eles ainda façam aquela careta e digam que já não são nenhumas crianças. Mas alegremo-nos pois podemos reunir as nossas famílias!
Ouço novas coisas. O clamor de armas foi substituído pelo bater incessante de pás e enxadas na terra, escavando e revolvendo terra devastada para abrigar familiares e amigos. Vozes que antes apregoavam preços hoje chamam por entes perdidos. O riso abandonou estas paragens, acompanhou a partida dos bêbados e das crianças em busca de sítios mais seguros. No crepúsculo, o silêncio é senhor de tudo. Mas ele perdeu o toque de paz ou harmonia de antigamente. Tornou-se sufocante.
Tento esquecer o desespero que ouvi nas vozes dos moribundos, aterroriza-me a possibilidade de vir a ouvir quem mais morreu ou desapareceu, aflijo-me por não ouvir nenhuma das velhas vozes minhas conhecidas. O silêncio atormenta-me, esmaga-me, comprime-me. O silêncio é soberano à passagem da guerra. O silêncio realça que nada voltará a ser o mesmo, nem na vitória… nem na derrota. O silêncio é senhor de tudo.


4 comments:

Anonymous said...

woof woof grrrrrr

fidos said...

para melhorar, mad "três underscores" dog. mas vá lá, podia ter sido bastante pior.

Anonymous said...

oh pah...isto é mais um blog comico nao é??...ind n consegui parar de rir....



wof wof....do melhor!!!


va, temos de admitir k o dog consegui escrever um texto grandinho....ha um porlbm:: NINGUEM VAI SE DAR AO TABALHO DE LER



(eu digo isto hugo, mas tou so n binka cntg...n kero k leves a mal)

Anonymous said...

tira a Maddie da foto. q falta de respeito